1 de junho de 2010

Instrução ou o tesouro de outros tempos

Não sabia ler. A minha bisavó. Teve onze filhos e muitos mais netos, um deles o meu pai. Passava uma semana por ano em nossa casa, ensinou-me a rezar e a fazer a trança. Era pequenina e vestia preto pelo marido, que eu nunca conheci. Sabia apenas escrever o seu nome e fazia-o com letra desenhada e grande com um orgulho que não cabia no papel. Guardo essa memória e esse orgulho no livrinho de orações que me ofereceu na Primeira Comunhão.
O meu avô andou na escola, fez a instrução básica e bastava porque era preciso trabalhar e estudar não era para todos. Lembro a caligrafia perfeita e mais do que isso os seus números briosos, o 2 começava com uma bolinha na ponta e desenvolvia-se como um arabesco. Saber a aritmética (como dizia sempre), escrever e ler eram a sua possessão mais valiosa.
Por isto me entristece e envergonha que a instrução (no seu sentido mais abrangente) hoje, com posto de dado adquirido, seja tão pouco valorizada por quem a recebe que usa a escola para tudo menos para aprender e por quem toma as decisões que se preocupa mais com as estatísticas do que com a essência da educação e do ensino. 
Faltam orgulho e brio.