30 de novembro de 2012

Crónicas de uma nova vida #2

Vivo agora num outro mundo, com outros sons, cheiros, pesos e medidas. Um mundo liliputiano onde a diferença se faz grama a grama, mililitro a mililitro e onde os heróis não se medem, mesmo, aos palmos.
Vivo, neste novo mundo, não só a minha como as outras histórias que partilham o espaço daquela UCIN, vibro com cada grama mais que o A ganhou, com a vitória do B que finalmente respira sem apoio ou com a C que já mama.
Já não tenho nome, sou, na UCIN, nos corredores, no refeitório, na secretaria, na portaria, daquela maternidade, a mãe dos gémeos, e vivo agora numa nova dimensão onde como, durmo e tomo banho porque é preciso, e mais necessidades, premências ou urgências não tenho, só preciso de lá estar.

Os meus meninos, tão pequeninos e tão grandes, tão frágeis e tão valentes, fizeram hoje duas semanas de nascimento e continuam no bom caminho. 

28 de novembro de 2012

De que cor são os beijos?

"- E sabes? Muitas vezes os beijos são também de um lilás escuro e misterioso. São aqueles que nos consolam quando estamos tristes ou confundidos e não sabemos que fazer ou para onde ir e nos dizem: "não te preocupes, que eu vou estar sempre ao pé de ti"."
                       

Extracto de "Mamã de que cor são os beijos?", Carla Pott/Elisenda Queralt

Hoje

Quem me ensinou a ser mãe faz hoje 6 anos de vida.

26 de novembro de 2012

Crónicas de uma nova vida # 1

Não consigo neste momento falar pensar ou sentir para além disto e preciso de exprimir-me de alguma forma em algum recanto. Os meus filhos mais novos começam a sua vida numa UCIN (Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais). Nos últimos tempos têm passado várias reportagens sobre a prematuridade nos noticiários mas efetivamente muito pouco ou nada se consegue mostrar do que é esta realidade. E a realidade é que é avassalador, avassalador, avassalador (é a palavra que ecoa no meu cérebro a cada instante). É avassalador em primeiro para o recém-nascido que não só passa do seu casulo aquático para um ambiente estranho antes de estar preparado como passa para um ambiente no qual não reconhece as vozes nem o toque  que lhe são familiares e onde tem de lidar com a dor física por força de entubações, agulhas, sondas, ventiladores etc. É avassalador para a família no geral e para a mãe em particular face à impotência que se sente perante a fragilidade de um filho.

Dia 1 - Os meus filhos nasceram com 2 minutos de intervalo, apenas lhes ouvi um choro tímido e me foram mostrados num relance na passagem entre as mãos do obstetra e a incubadora, do outro lado da porta. Deles só ouvi do doutor "são giros e são iguais". A anestesia acalmou a ansiedade. 

Dia 2 - Complicações pós-parto e não pude ver os meus filhos. Não sei o que me fez pior se lidar com a dor fisica se com a dor de sentir os meus filhos "ao abandono" num ambiente estranho. 

Dia 3 - Finalmente a primeira visita aos meus filhos e o embate com a realidade de uma UCIN. O abalroamento emocional não tarda. Os meus pequenos filhos estão rodeados de máquinas, com eletrodos, cateters, vendas, tudo ligado e montado nos seus corpos minúsculos, rodeados de pessoas que estão concentradas e preocupadas com a sua evolução/tratamento/bem-estar como tem de ser mas que não sabem lidar com a ansiedade da mãe e com a necessidade de entender o que se passa. 

Dia 4 - Um dos meus filhos tem uma agulha espetada do lado esquerdo do torax, "foi uma pequena bolha no pulmão, mas agora está estável", disseram mas já os ouvi muito longe tal foi a vertigem ao perceber o sofrimento do meu pequeno bébé a quem só queria agarrar e proteger. Levaram-me embora de volta para o quarto com a desculpa de que iam fazer um rx torácico e era melhor eu não estar presente. Mais uma vez a sensação devastadora de impotência. Chorei todo o dia, e toda a noite.

É-me muito dificil pôr por palavras os sentimentos dessa primeira semana: de cada vez que entrei nas portas decoradas com o Winnie the Pooh e o Mickey era tamanha a intimidação que não consegui fazer as perguntas que queria, tocar nos meus filhos como queria, falar-lhes e cantar-lhes como desejava. Intimidação face às máquinas e apitos e fios e registos e principalmente face àqueles profissionais que têm a vida dos meus filhos nas mãos e nos olhos.

Tive alta ao fim de uma semana de internamento e de 5 dias após o parto.
Sair da maternidade sem eles foi terrível, foi como se os abandonasse, chegar a casa sem eles foi outro choque incomensurável.
Nasceram fez hoje 10 dias, desde que tive alta vou de manhã bem cedo para a maternidade e fico até às 19h00 (apesar de todas estas novas rotinas, as rotinas do meu filho mais velho têm de ser respeitadas), já lhes toco e pego e falo e canto, mas também choro, sem eles verem .
Os meus filhos não nasceram no limite como muitos outros, hoje estão estáveis e estão a ganhar peso mas, e como me dizem daquelas portas para dentro, é um dia de cada vez.

20 de novembro de 2012

novas

pronto foi mais cedo os manos v. e v. ja ca estao.
resumo que escrever no telemovel nao me agrada e nao sei quando irei para casa: quarta feira internamento  na maternidade, quinta decisao medica de cesariana, sexta, dia 16 com 31 semanas  os  pinipons saltam da mae para a incubadora e la estarao durante os proximos tempos para continuarem a crescer. muita angustia, muita ansiedade mas muita fe nos meus pequenos herois. coracao de mae sofre...

9 de novembro de 2012

O amor divide-se ou multiplica-se?

Há muito que preciso de verbalizar os sentimentos que me inquietam agora que serei mãe de novo, ou melhor, serei uma mãe partilhada. 
Não sei se este é um sentimento comum ou não mas à alegria de esperar mais dois filhos junta-se um medo terrível, um duplo medo: medo de que o meu filho, único até agora, a quem durante 6 anos foi devotada toda a atenção, se sinta menos amado, que sofra, que crie ressentimentos e medo de não ser capaz de amar tanto os irmãozinhos como amo e sempre amei a ele, desde o momento em que soube que ele já existia dentro de mim. Acredito que o amor não se divida, antes se multiplique mas, não tendo referências pessoais por ser filha única, não consigo evitar esta dualidade de emoções, estes receios. São devaneios tresloucados meus? Ou, antes pelo contrário, passa pela cabeça de todas as mães?

7 de novembro de 2012

Perguntas dificeis

Passada a fase do querer saber como são feitos os bébés, como vão para a barriga e como saem de lá, as perguntas difíceis do meu filho são agora, e pelo menos para mim, as verdadeiramente difíceis:

"Mamã como é que Jesus está no meio de nós se ele morreu?"
"Mamã como é que as pessoas morrem e vão para o ceú se tudo o que vai para o ar cai se não tiver para-quedas?"
"Mamã o que é o espírito santo? E o que é só o espírito?"
(isto é só um reduzido exemplo das suas questões teológicas e metafísicas...)

E não há nada que o cale enquanto as respostas não fizerem sentido lógico na sua cabecita de 5 (quase quase 6) anos. Como se fosse fácil explicar a fé e o abstrato de forma lógica!

3 de novembro de 2012

A espontaneidade da gravidez

À pergunta : "Foi uma gravidez espontânea?", feita na maternidade eu e Mr. H segurámo-nos para não rir e respondemos qualquer coisa como "Bem...precisámos um do outro..". Sim porque da primeira gravidez nunca ninguém nos perguntou tal coisa e de gravidezes espontâneas a história só reza uma e mal contada...
A boa disposição instalada de parte a parte lá veio a contextualização: o aumento do número de gravidezes gemelares provem do maior número e melhoria das técnicas de reprodução clinicamente assistida, logo, interessa aos técnicos de saúde perceber se é o caso da nossa ou se foi obra e graça da natureza. Depois disto a questão já se repetiu por diversas vezes (em laboratórios, ecografias, outras consultas...) e já pude responder calmamente que sim, foi uma gravidez espontânea, muito espontânea.

Polar Post Crossing 2012

Este ano e porque, desconfio, estarei fora de circulação nessa altura a tomar conta de 3 rapazes em simultâneo (4 vá contando com Mr. Husband) e /ou ainda na maternidade, não me comprometerei mas como é somente a melhor celebração natalalícia da blogosfera, promovida pela Pólo Norte do Quadripolaridades, aqui fica o destaque.



Para mais informações passar por Aqui.