8 de março de 2013

Crónicas de uma nova vida #8

Esta será a última destas crónicas. Tiveram inicio numa altura de profunda solidão na minha vida, a pior das solidões, aliás, que é aquela que sentimos mesmo rodeados por imensas pessoas. Numa altura em que facilmente me poderia ter entregue a uma depressão sem fim não fosse achar que não tinha esse direito, que os meus filhos mereciam mais de mim. Devido à precipitação de toda a situação, que não repetirei porque quem me segue habitualmente já a conhece de sobra, tive os meus filhos sem a presença do meu marido, a trabalhar fora. Não tinha os meus filhos ao meu lado como as outras mães, não tinha o pai dos meus filhos ao meu lado, a minha vida tremeu, a minha alma estremeceu, e os meus olhos não encontravam o que queriam e precisavam. Chegou um mês e meio depois, na véspera de terem alta. E assim foi um mês e meio a percorrer os mesmos corredores, a olhar para o mesmo relógio sempre parado nas 17h45, a comer na mesma cantina, sem a presença da única pessoa que poderia querer ao meu lado, sem a única mão que poderia querer na minha. Não que me faltassem mãos e braços a envolver-me mas não chegavam, nada me chegava, para apaziguar a dor e a impotência de ver os meus filhos a lutar pela sua sobrevivência e fortalecimento e a dor de me ver sozinha perante tudo isso. Foram 29 semanas e meia (desde o diagnóstico às 16 semanas de gestação até à alta dos bébés) de sofrimento, medo e solidão como nunca tive na minha vida. Não se passa por isso incólume, há marcas e mágoas que não se apagam, ainda que se ultrapassem.
Foi aqui neste meu espaço que encontrei alguma paz escrevendo sem saber sequer se alguém me leria, tão longa havia  sido a minha ausência. Mas ver o que sentia preto no branco ajudou-me a manter a objectividade, e todas as palavras de apoio e retorno que fui recebendo aqui e no meu mail foram uma espécie de âncora num navio que navegava em desequilíbrio e agradeço-as todas do fundo do meu coração. Conheci também um espaço de partilha fantástico, grupo (fechado) "Mãe de Gémeos" no facebook onde me senti verdadeiramente compreendida pois conheci as histórias idênticas ou piores do que a minha de muitas outras mães e onde sempre recebi ( e recebo) palavras de incentivo, ânimo e carinho de pessoas que não o fazem por obrigação mas por genuína empatia. E se descobri super-mulheres por lá... 
Agora os bébés estão bem, e estão integrados na dinâmica familiar com toda a normalidade ainda que com as especificidades que a sua condição de prematuros exige. Terão sempre uma história de inicio de vida especial mas a sua existência é transversal à minha, à do pai e à do irmão e por isso estas crónicas numeradas que davam conta dos seus progressos e da minha vida enquanto mãe de prematuros internados chegam ao fim. Continuarei a falar dos meus valentes bébés mas achei que as crónicas mereciam um último episódio condigno, um ponto final que marcasse uma nova etapa  das nossas vidas.