Reflexões macambúzias

 Dentro de 6 meses terei 50 anos, terei mais passado do que futuro e há coisas com as quais não me consegui ainda conformar ou perdoar, ou, pelo menos, dias em que penso demasiado nisso.

Que o meu avô tivesse partido demasiado cedo e me tivesse deixado sem os seus olhos de amor e orgulho nos momentos mais importantes da minha vida; que não tivesse conhecido o bisneto que lhe herdou o nome e a beleza;

Que demasiadas vezes me tenham julgado por outras circunstâncias que não o carácter, o mérito e a competência e tenha tido sempre de dar mais provas do que todos os meus outros pares;

Que me deixasse crer que não era suficiente para alguém;

Que tivesse estado no mesmo tempo e espaço com quem precisava e queria estar sem que a vida o fizesse acontecer;

Que tenha deixado de dizer e fazer  o que queria vezes demais com medo de desiludir alguém;

Que a recordação da gravidez e nascimento prematuro dos meus gémeos sejam da ansiedade,  do medo e das lágrimas e que não tenha procurado ajuda psicológica;

Que tenha tido que aprender que ninguém é 100% confiável;

Que deixasse de lado uma carreira que me proporcionaria maior qualidade de vida financeira por uma paixão  que paga tostões;

Que não tenha tido mais nenhum cão;

Que tenha deixado de sonhar.

 Sei que quando cheguei aos 30 também foi um período de muitas reflexões mas estava então no auge da minha vida como mulher, em beleza,  atitude, confiança e propósito, prestes a engravidar do meu primeiro filho e com olhos que brilhavam a olhar para o futuro, cheia não de inconformismos mas de esperanças.

A esperança agora é que o tempo e sabedoria me façam ver antes todas as coisas pelas quais dou graças e que não chegue aos 80 a pensar que desperdicei vidas... e que ao ver estas lamentações por escrito elas pareçam só parvoíces (como em tantas outras vezes).


( a banda sonora que acompanha a criação deste post é uma playlist a que chamei "melancólicos inveterados" o que diz tudo sobre o estado de espírito que para aqui vai ...)

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