Mensagens

A mostrar mensagens de 2025

Dom Casmurro, página 28

  Não sei porque esperei por esta idade para ler o "Dom Casmurro" de Machado de Assis. Ele ali estava na estante, há anos, mas foi recentemente que começou a chamar-me, e eu a ler outras coisas e ele a chamar-me. De tão insistente, obrigou-me a largar pendente o que tinha em mãos e começá-lo de imediato. Parei logo na página 28 (só o facto de ser nesta página dava para outra conversa, mais simbólica do que objectiva) que termina com esta maravilha :" Os olhos continuaram a dizer coisas infinitas, as palavras de boca é que nem tentavam sair, tornavam ao coração caladas como vinham...". Claro que os meus olhos se encheram de lágrimas, era previsível, ou não fosse eu altamente impressionável e permeável às emoções e sensações. Não foi só pela beleza literária ou pela comoção da cena mas também, e principalmente, porque a imagem que o meu cérebro resgatou não foi a visualização do Bentinho e da Capitu de 15 anos junto ao muro, mas sim a de um pátio barulhento e apinhado...

O fim do affair?

 Eu e o café temos uma longa história desde a minha adolescência. Já passámos por várias fases: de vários anos a colocar-lhe um pacote e meio de açúcar; (shame on me) passei a um pacote de açúcar; daí para meio pacote durante muito tempo; depois para duas bolinhas de adoçante; mais tarde para uma bolinha de adoçante e assim  ficámos uma eternidade. Eis que hoje, pela primeira vez, tomei café sem absolutamente nada adicionado. Estou num misto de emoções entre o orgulho pelo meu progresso e o receio de que isto seja o fim de uma relação de longa data...

Misantropia, introversão ou dois lados da mesma moeda?

    Ontem alguém me disse que se sentia um misantropo, identifiquei-me com aquilo, ainda que de forma diferente, e fiquei a pensar no assunto.  Sou socialmente inábil, passo por antipática mas acho que é por ser introvertida, não sei lidar com pessoas, com adultos mais propriamente. Ou converso com quem tenho um assunto concreto ou uma conexão verdadeira, podendo até passar por extrovertida, ou escuto com atenção plena, mas não consigo fazer conversa de circunstância e falar só porque sim.  Gostava de ter essa habilidade, poupava-me o desconforto de me querer impossivelmente tornar invisível ou fugir para casa em tantas ocasiões.  Uma vez um dos meus filhos, com 3 ou 4 anos, disse que não queria ir a uma festa, quando perguntei o porquê respondeu com muita tranquilidade : "porque há lá pessoas e eu não gosto de pessoas", percebi que seja misantropia ou introversão, corre-nos no sangue ou na alma. 

Arroz doce do coração

 A minha avó materna fazia o melhor arroz doce, não o comia feito por mais ninguém. Eu nunca o fiz e só como quando a minha mãe ou a minha tia o fazem apesar de não ficarem iguais aos da avó. Hoje um dos meus gémeos, do alto dos seus 12 anos, disse que queria fazer arroz doce. Telefonou à avó a pedir a receita e fez, tudo, sozinho. E fiquei tão orgulhosa. Rapámos o tacho tal como eu fazia com a minha avó, fez os desenhos com a canela e ficou lindo. Vamos comê-lo em família e vai estar delicioso, ou não tivesse estado a minha avó presente lado a lado com o seu bisneto ali mesmo  na nossa cozinha. 

Clássicos

- Conta-me coisas... - uma coisa; duas coisas; três coisas...

Às vezes obedeço

 Muito de longe a longe acontece, o meu corpo grita-me que pare e fá-lo taxativamente. Aconteceu na sexta-feira, durante o trabalho as minhas pernas paralisaram de dor; a garganta; os ouvidos; as costas; as mãos; o frio, tudo de uma só vez. Não sei como conduzi até casa, só sei que cheguei com febre, que fui direto para a cama, que não conseguia aquecer as mãos nem os pés, que as lágrimas me saltavam dos olhos sem controlo e que as pernas doíam muito. Tomei algo para sintomas de gripe, cancelei tudo o que tinha para o dia seguinte e quando consegui dormir, dormi incrivelmente bem, dormi tudo o que quis e precisava, acordei sem despertador quando o meu corpo entendeu. Desta vez obedeci-lhe submissamente e apesar de ter passado o dia de ontem praticamente de cama, hoje, à parte uma garganta dorida, não tenho quase sintomas. Sei que somatizo as dores da alma, as preocupações, o stress e o cansaço, e que vou acumulando e assobiando para o lado até que, sob risco de implosão, recebo est...

Pilhas novas

 Pessoas que, como eu, começam o trabalho na hora em que todos os outros estão de regresso a casa entendem. Ir para o trabalho ainda com luz do dia é do melhor, ganhamos pilhas novas quando adiantamos 60 minutos no relógio. Este ano como se não bastasse não termos este horário de verão em definitivo ainda ouvi, incrédula, nas notícias, tecerem os mais elaborados tratados sobre os "perigos" desta mudança horária! Uiiiiii que perigoso este jet lag tuga mal amanhado... nem sei se ria ou se chore, que anda tudo fora da graça do senhor e não sabem mais do que falar para entreter o povinho.

Don´t let me be misunderstood

 Sempre achei que, falando de sentimentos, se podia (e devia) dizer tudo. Pensava que não havendo malícia nem dano a causar, se podia ser transparente. Achei mal. Descobri tarde que a transparência pode doer e que as palavras ditas no verso podem ser entendidas pelo avesso ou esquecidas ou desconsideradas e doerem também. Fui aprendendo a guardar as palavras na gaiola e a fazer do silêncio o meu maior arrojo , sem apelo nem agravo.

É o que somos

 "Éramos todos projectos de cadáveres." Foi Rosa Montero que escreveu no último livro que li dela, "Instruções para salvar o mundo". Não me sai da cabeça e é só isto.

Eternidade

Há segundos que duram muitos anos, é dessa matéria que é feito o filme que dizem ver-se nos últimos segundos de vida cerebral. O fast forward da nossa eternidade.

Biografia

Os meus livros ocupam estantes numa parede inteira. Um mural a partir do qual posso contar toda a minha vida.

Happy Hour on wheels

     Entre os prós e os contras de morar nos arredores da cidade está o facto de passar muito tempo ao volante: leva os filhos à escola; regressa; vai tratar de assuntos na cidade; regressa; vai trabalhar; regressa... enfim, muitos quilómetros, pneus e gasolina gastos entre "vais e vens" constantes. As facturas  são o pior deste cenário porque de conduzir eu gosto e este tempo sobre rodas, tornou-se numa espécie de "Happy Hour" na qual tenho tempo para ouvir a minha música. Na verdade o meu carro serve-me de escritório no qual eu sou secretária administrativa e trato de marcações de consultas e outras coisas mais do bando (AKA agregado familiar); marcação de reuniões e despacho de assuntos de trabalho; é também ponto de encontro telefónico a partir do qual se põem em dia as conversas com os amigos e familiares e se marcam possíveis encontros e saídas reais que nunca chegam a acontecer; é consultório do psicólogo onde me confronto com as questões que posso ter comigo...

Chaves de acesso a outra dimensão

Estou certa de que para as viagens no tempo e no espaço serem uma realidade a música  e os cheiros terão de fazer parte das equações dos físicos. Criei uma playlist em homenagem à minha avó materna que fazia tudo a cantar as suas músicas preferidas (obrigada Spotify). Assim que ouço "os teus olhos castanhos de encantos tamanhos ..."  lá estou eu junto dela outra vez enquanto cozinha, estende a roupa ou passa a ferro e, por um breve momento, é quase palpável.  Se à música conseguir juntar o perfume da sua indispensável laca acho que a conseguirei abraçar de novo.