De Horas (Des)Contadas

 Os meus gémeos completam hoje 10 anos, têm já uma incrível história de vida, e eu ainda a mesma cara de incredulidade e deslumbramento quando olho para eles (a mesma de quando soube que eram dois e que passava a ter uma “família numerosa”).  Emudeço no meio de tantas emoções quando revivo estes 10 anos e não consigo esconder o orgulho. 

 Partilhando a minha estupefacção. As 2 crias mais jovens foram para o 5º ano, realidade nova, novas responsabilidades, tudo dentro do expectável até constatar que, ou anda tudo fora da graça do senhor ou os 6 anos de distância que vão do 5ª ano do mais velho até agora me colocaram numa desactualização/desadequação extrema face ao ensino público actual de certas disciplinas em particular.  Educação física - o professor não só exige que os alunos se façam munir do manual (sim manual) para todas as aulas como lhes entope a classroom (uma alínea especifica para isto mais adiante) com videos, links e documentos e 15 dias depois do inicio das aulas já lhes solicitou um trabalho teórico escrito para além dos testes que também irão ter. Sério?! Até a escrever isto estou de boca aberta e olhos arregalados. Educação Visual - Para além  da lista de materiais de 42 items (x 2 note-se o meu encanto, a minha cara nos corredores da loja devia ser digna de registo videográfico) a professora é adepta

 Castigo divino é o que digo. Quando eu já dizia que ia ser um caso de estudo por ser das pouquíssimas pessoas que conheço a quem o parvo do covid não tinha alcançado , apanhou-me ! E quando eu achava que se ficasse infetada não iria ter sintomas, toma lá uma carga generosa que já vou no terceiro dia de cama. Tudo me dói até a alma e isto tem de ser assim uma entrada de diário digital muito breve que nem para os ecrãs consigo olhar . Bolas!

 Não consigo pensar para além da tristeza daquilo a que assistimos há uma semana . Sinto-me muito pequenina na minha vidinha e nas minhas trivialidades, tudo o que possa escrever por estes dias me parecerá fútil. Não encontro palavras que me façam sentido e de política sei apenas o que a História e a literatura me ensinaram. Não posso, portanto, escrever nem tecer considerações políticas e ideológicas posso só dizer, como pessoa pró-vida que sou o quanto me custa ouvir vozes que tentam  justificar a invasão de um país democrático que tem um governo eleito democraticamente ( irrelevante a cor partidária do mesmo). É quase como tentar justificar um violador com o facto da vítima usar mini saia… profunda tristeza.

 Os miúdos de 15 /16 que ouvem Nirvana intitulam-se de "old school". Pois. Não sei se me dói mais isto ou ouvir o meu filho tocar Metallica na guitarra... é karma ou algum rito de passagem para rapazes de todos os tempos??? Vou só ali revirar os olhos virada para a parede. 

 A propósito de uma música que ouvi pela primeira vez estes dias e ainda que não esteja relacionada, veio-me à memória um filme que vi várias vezes quando tinha 17 ou 18 anos (há muito, portanto). O filme "New York Stories" de 1989 é composto por três histórias distintas dirigidas por diferentes realizadores : Martin Scorsese, Francis F. Copolla e Woody Allen mas a que me fascinava, não sei muito bem porquê, era a primeira, "Life Lessons" do Scorsese com Nick Nolte e a Rosanna Arquette. Aquela cassete VHS foi rebobinada vezes sem conta e ainda existirá junto de muitas outras guardadas em casa dos meus pais. E isto não tem interesse absolutamente nenhum a não ser perceber que a música, como os filmes, os livros e os cheiros nos podem levar de viagem no tempo. E de como o YouTube é precioso.

 Queria comprar um livro, Expiação, de Ian McEwan, o que encontrei tinha na capa as imagens do filme, que, aliás, adoro, mas como não era sobrecapa que se pudesse retirar, não comprei. Tenho as minhas manias. Sou do clube dos que acham sempre que os livros são melhores do que os filmes ainda que nalguns casos as adaptações ao cinema sejam realmente muito boas. Fascina-me até o trabalho de pegar num livro e colocá-lo em imagens e movimento fora do que acontece na nossa cabeça ao ler. Mas   senhores editores quando quiserem apelar à compra através das imagens do cinema façam-no com opção de descartar essa capa para quem isso é irrelevante, por favor.

Na página 438 às 22h22 Na terceira estrela a contar da esquerda na Ursa Maior às 23h32 Na sexta estrofe da letra às 00h00

Das minhas palavras preferidas constam  Palavra Silêncio Acto Quietude

 O tratamento por Katy (K e y não sei porquê mas escrevia-o assim) sempre esteve reservado apenas a primos próximos, amigos de infância e adolescência e uma professora de inglês. A minha mãe não gostava porque parece que era eu muito pequena e uma vizinha tinha uma cadela com esse nome e lá lhe fazia cócegas no cérebro que chamasse à filha o mesmo que a uma cadela.  Esses primos e amigos mais antigos ainda se me dirigem por Katy e eu gosto tanto, sinto-me abraçada.

 Dentistas, obstetras e esteticistas conhecem-nos bem, no nosso pior. (Constantando que já fui mais vezes ao dentista na vida do que ao obstetra e esteticista juntos).

 Não sei afinal qual é a idade da meia-idade mas se dobrar a idade que tenho dá os 90, o que me parece uma boa meta (isto dá um outro longo assunto), logo, penso que é agora mesmo. Faz-me sentido então um conceito batido, ouvido aqui e ali e que não entendia, a tal da crise de meia-idade. Não sei se chamar de crise será o mais correcto mas se calhar é isto de achar que os 90 é que foram bons, de dizer ao meu filho de 15 anos aquilo que ouvia a minha mãe dizer-me "quem me dera ter a tua idade e saber o que sei hoje", de recordar com tons dourados e rosa a minha adolescência e juventude quando muitas vezes sentia era tudo tão denso e obscuro, de reviver mentalmente instantes e situações de há 30, 20, 15 anos com medo de um dia os não encontrar mais. Penso e repenso nisto da memória e da desmemória, com receio. Sei que há momentos que só existem enquanto quem os viveu viver para os recordar e que será como se nunca tivessem existido quando morrerem. Desejava que houvesse alguma

Quando em 2014 resolvi dar por terminada a actividade por aqui não poderia imaginar como, passados 8 anos, muitas coisas evoluiriam e é um exercício interessante de se fazer. A partir daqui consigo ver o que mudou, o que ganhei e o que perdi. Resumindo: 2014-2015 foram anos de turbulência, novas realidades pessoais e projectos/desafios profissionais; 2016-2019 foi a velocidade cruzeiro, o piloto automático, sempre muito trabalho mas muita estabilidade em todos os aspectos e 2020-2021 foram anos meio vividos, como para toda a gente, péssimos profissional e financeiramente mas reveladores de muito de mim que estava adormecido e que o abrandamento forçado permitiu despertar. Durante estes dois últimos anos os meus filhos cresceram ao ponto de me deixarem regressar às minhas paixões, leitura, cinema, música, pelo menos a um certo ritmo que com a tripla maternidade se tinha esvaído. Os confinamentos (e as redes sociais) trouxeram-me de volta velhas amizades, a partilha de muitas memórias e

Estava hoje, e depois de um muito longo intervalo, a passear pelos meus antigos blogues preferidos e pensei com os meus botões: pareceria muito mal voltar ao meu antigo espaço? Não tem que parecer bem ou mal para ninguém mas a verdade é que depois de tanto tempo sinto-me como uma visita que aparece sem avisar. Mas oito anos depois de ter considerado parar de me expressar aqui e de muito ter mudado na minha vida, tem-me feito falta, muita. Não tenho planos, hoje apetece-me amanhã talvez não mas aqui estou.