A meia idade

 Não sei afinal qual é a idade da meia-idade mas se dobrar a idade que tenho dá os 90, o que me parece uma boa meta (isto dá um outro longo assunto), logo, penso que é agora mesmo. Faz-me sentido então um conceito batido, ouvido aqui e ali e que não entendia, a tal da crise de meia-idade. Não sei se chamar de crise será o mais correcto mas se calhar é isto de achar que os 90 é que foram bons, de dizer ao meu filho de 15 anos aquilo que ouvia a minha mãe dizer-me "quem me dera ter a tua idade e saber o que sei hoje", de recordar com tons dourados e rosa a minha adolescência e juventude quando muitas vezes sentia era tudo tão denso e obscuro, de reviver mentalmente instantes e situações de há 30, 20, 15 anos com medo de um dia os não encontrar mais. Penso e repenso nisto da memória e da desmemória, com receio. Sei que há momentos que só existem enquanto quem os viveu viver para os recordar e que será como se nunca tivessem existido quando morrerem. Desejava que houvesse alguma forma de viagem no tempo não tanto para viver de novo esses momentos mas para registá-los, para os gravar, fotografar, filmar, para que, morrendo, eles perdurassem eternamente. 

Se calhar fantasiar com coisas parvas também faz parte do quadro clinico da meia idade.

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