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Doce liberdade

 Férias : - Ir para um local onde a probabilidade de encontrar conhecidos é de 0.02% - Ter 0 preocupações com outfits (meu e dos putos) - Não usar maquilhagem e deixar as sardas do nariz fazerem a sua aparição em paz - Não querer saber das horas para nada - Mandar a dieta às urtigas e comer bolas de Berlim, gelados e afins e lidar com o estrago depois - Ler na praia, ler no rio, ler na esplanada, ler no jardim, ler na piscina - Fotografar e filmar os miúdos como se não houvesse amanhã, só para mim - Não ver tv, (quase) não ver redes sociais - Sair sem telemóvel - Pensar 300 vezes ao dia que devia mudar de vida para algo mais próximo disto,  todo o ano, e já, e para sempre. (Não estou preparada para voltar à ditadura da vida real...)

Reflexões macambúzias

 Dentro de 6 meses terei 50 anos, terei mais passado do que futuro e há coisas com as quais não me consegui ainda conformar ou perdoar, ou, pelo menos, dias em que penso demasiado nisso. Que o meu avô tivesse partido demasiado cedo e me tivesse deixado sem os seus olhos de amor e orgulho nos momentos mais importantes da minha vida; que não tivesse conhecido o bisneto que lhe herdou o nome e a beleza; Que demasiadas vezes me tenham julgado por outras circunstâncias que não o carácter, o mérito e a competência e tenha tido sempre de dar mais provas do que todos os meus outros pares; Que me deixasse crer que não era suficiente para alguém; Que tivesse estado no mesmo tempo e espaço com quem precisava e queria estar sem que a vida o fizesse acontecer; Que tenha deixado de dizer e fazer  o que queria vezes demais com medo de desiludir alguém; Que a recordação da gravidez e nascimento prematuro dos meus gémeos sejam da ansiedade,  do medo e das lágrimas e que não tenha procurad...

Dom Casmurro, página 28

  Não sei porque esperei por esta idade para ler o "Dom Casmurro" de Machado de Assis. Ele ali estava na estante, há anos, mas foi recentemente que começou a chamar-me, e eu a ler outras coisas e ele a chamar-me. De tão insistente, obrigou-me a largar pendente o que tinha em mãos e começá-lo de imediato. Parei logo na página 28 (só o facto de ser nesta página dava para outra conversa, mais simbólica do que objectiva) que termina com esta maravilha :" Os olhos continuaram a dizer coisas infinitas, as palavras de boca é que nem tentavam sair, tornavam ao coração caladas como vinham...". Claro que os meus olhos se encheram de lágrimas, era previsível, ou não fosse eu altamente impressionável e permeável às emoções e sensações. Não foi só pela beleza literária ou pela comoção da cena mas também, e principalmente, porque a imagem que o meu cérebro resgatou não foi a visualização do Bentinho e da Capitu de 15 anos junto ao muro, mas sim a de um pátio barulhento e apinhado...

O fim do affair?

 Eu e o café temos uma longa história desde a minha adolescência. Já passámos por várias fases: de vários anos a colocar-lhe um pacote e meio de açúcar; (shame on me) passei a um pacote de açúcar; daí para meio pacote durante muito tempo; depois para duas bolinhas de adoçante; mais tarde para uma bolinha de adoçante e assim  ficámos uma eternidade. Eis que hoje, pela primeira vez, tomei café sem absolutamente nada adicionado. Estou num misto de emoções entre o orgulho pelo meu progresso e o receio de que isto seja o fim de uma relação de longa data...

Misantropia, introversão ou dois lados da mesma moeda?

    Ontem alguém me disse que se sentia um misantropo, identifiquei-me com aquilo, ainda que de forma diferente, e fiquei a pensar no assunto.  Sou socialmente inábil, passo por antipática mas acho que é por ser introvertida, não sei lidar com pessoas, com adultos mais propriamente. Ou converso com quem tenho um assunto concreto ou uma conexão verdadeira, podendo até passar por extrovertida, ou escuto com atenção plena, mas não consigo fazer conversa de circunstância e falar só porque sim.  Gostava de ter essa habilidade, poupava-me o desconforto de me querer impossivelmente tornar invisível ou fugir para casa em tantas ocasiões.  Uma vez um dos meus filhos, com 3 ou 4 anos, disse que não queria ir a uma festa, quando perguntei o porquê respondeu com muita tranquilidade : "porque há lá pessoas e eu não gosto de pessoas", percebi que seja misantropia ou introversão, corre-nos no sangue ou na alma. 

Arroz doce do coração

 A minha avó materna fazia o melhor arroz doce, não o comia feito por mais ninguém. Eu nunca o fiz e só como quando a minha mãe ou a minha tia o fazem apesar de não ficarem iguais aos da avó. Hoje um dos meus gémeos, do alto dos seus 12 anos, disse que queria fazer arroz doce. Telefonou à avó a pedir a receita e fez, tudo, sozinho. E fiquei tão orgulhosa. Rapámos o tacho tal como eu fazia com a minha avó, fez os desenhos com a canela e ficou lindo. Vamos comê-lo em família e vai estar delicioso, ou não tivesse estado a minha avó presente lado a lado com o seu bisneto ali mesmo  na nossa cozinha. 

Clássicos

- Conta-me coisas... - uma coisa; duas coisas; três coisas...