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Dos Infernos na terra

 90 por dia é a média de violações na Índia onde violar uma mulher é igual a beber um copo de água e as violações em grupo são tão banais como pagar uma rodada de cerveja entre amigos. Apesar de se falar nisto na comunicação social agora que ocorreu um destes crimes sobre uma médica num hospital público na Índia, estes dados não são novos. Não raras vezes o peso recaí sobre as vítimas, são expulsas e abandonadas pela família por lhes trazerem vergonha e os agressores sempre impunes, claro. A violência sobre as mulheres e nomeadamente a violência sexual é, nalgumas partes do globo, e na actualidade, uma prática comum, diria quase cultural e sem consequências para os perpetradores.  Os infernos existem, de várias formas, este é só um deles. Mas "prontos", é mais fácil  pensar que são coisas longínquas (apesar de em Portugal o número de violações e violações em grupo também ter aumentado dramaticamente e ninguém parecer notar ou incomodar-se) e preocuparmo-nos mas é com os prono

Meu malfadado mês de Agosto

  Pertenço à categoria de pessoas que malfadadamente só podem ter férias em Agosto. Posto isto tenta-se fazer o melhor possível tendo em conta que é só a época em tudo triplica de preço, em qualquer sítio a população quadriplica e a paciência desce a uns fantásticos -80%. Ainda assim têm sido férias, ou melhor, mudança de casa durante um período de tempo, pelo menos nos últimos anos. Também  malfadadamente (palavra engraçada esta) é, por circunstâncias parvas e porque não sou funcionária pública (entre outras coisas), a única altura do ano em que poderia fazer uma cirurgia inadiável e necessária o que significa  que o presente mês de Agosto foi para o esgoto. Agora que estou neste estado anestesiado e dependente em que não posso  conduzir; não posso andar muito; não posso estar muito tempo de pé; não posso andar ao sol; não posso fazer esforços nem pegar em pesos ( pegar numa cadeira já entra nesta equação como um esforço e um peso); não posso ir à praia; não posso ir à piscina, resta-

Metafísica

Podemos representar, na vida de alguém, algo inigualável, incomensurável, inenarrável? Como existimos dentro de outro alguém? Queremos saber?

A primeira

       Ando há anos a fazer uma lista de nomes para a cadela que irei ter quando me reformar e/ou tiver o ninho vazio. Dela constam nomes de bailarinas; personagens de bailados; escritoras; personagens de literatura; actrizes e personagens do cinema; da mitologia clássica e outros. Um nome fica sempre a ressoar-me acima de todos os outros. Eva, há-de ser Eva. Nota - Aos 20 tinha a certeza que iria viver com uma cadela chamada Rita (culpa do Kieslowsky), não aconteceu. Vamos ver se consigo desta vez e ter a minha companhia para a "sexagenaridade". 

O mal do século é a falta de empatia

 "...Digam o que disserem o mal do século é a solidão Cada um de nós imerso em sua própria arrogância Esperando por um pouco de afeição..."  Renato Russo/Legião Urbana in "Esperando por mim" Nos anos 90, na minha adolescência, e graças ao pai de uma amiga que trabalhava no Brasil e lhe mandava os cd's da banda, eu ouvia imenso "Legião Urbana". Na verdade nunca deixei de ouvir até aos dias de hoje. Numa fase decisiva de formação encontrei  amiúde palavras para enformar as minhas emoções nas músicas deles e talvez por isso me ficaram tão vincadamente marcadas. As letras do Renato Russo são intemporais e muitas delas parecem-me mesmo mais actuais no século XXI do que no século passado. Frequentemente o meu cérebro começa a cantar versos e trechos de músicas deles quando estou perante alguma situação, pessoa, acção ou reacção. Esta grita-me muito quando sinto, vejo, pressinto, falta de empatia para  comigo ou para com outrem. É quase automático, a minha bo

Melancólica inveterada (e saudosista ocasional)

Estreei este "De Horas (des)contadas" em Maio de 2010. As redes sociais ainda não dominavam a internet e a blogosfera era o principal veículo de exposição de informação, opinião e devaneios ao alcance de qualquer um. Havia blogues dedicados a temas específicos e alguns bastante mediáticos. Eu, que seguia vários e para quem escrever foi, desde que me lembro, a única forma pela qual me conseguia expressar assertivamente, resolvi criar o meu próprio. Mas não tinha uma temática concreta ou um objectivo definido, desejava somente um espaço onde pudesse expor as minhas reflexões e impressões, coisas mais ou menos banais, conforme os dias ou a direcção do vento e sem expectativas de espécie alguma.  Hoje revisitei alguns dos posts mais antigos e viajei aqui no espaço e no tempo. Eu era ainda uma mãe de apenas um, tinha 34 anos, fresca, animada e cheia de energia. Este espaço tão meu acabou por significar muito durante muito tempo: foi um porto de abrigo, um local de partilha, um con

Recolher Obrigatório

Quase 2 anos desde a última vez que por aqui deixei umas linhas. Mas um repouso imposto e obrigatório e um tédio longo que se avizinha permitem-me voltar aqui ao meu confessionário. Depois de há 12 anos ter jurado que nunca mais faria uma cirurgia, a menos que me levassem amarrada e sedada, eis que fui ao bloco de novo, sim senhora, e de livre vontade. Não pela gravidade da situação mas porque era absolutamente necessária, lá fui, a morrer de medo. É-me aterradora a ideia de perder o controlo das acções sobre o meu corpo, mais ainda com uma anestesia geral e perante o pensamento de que poderia não regressar dela. Acho que deve ser igual com toda a gente, não é falta de confiança na ciência, é ansiedade, é o medo irracional que, suponho, é pior quando temos filhos e não lhes queremos faltar. Achamos que os filhos não vivem sem nós e que temos de estar sempre bem por eles e para eles. Mas, sendo verdadeira, parece-me que temos é medo de partir sem nos despedirmos; de que qualquer coisa s